Cena longa
Mexe o braço. Pensa. Um, dois, três.. vai! Não foi! Pensa mexer o braço! Pensa mais rápido que o braço. Dobra o indicador. Será? O mindinho? Talvez... O indicador, com certeza. Não vê. Sente...
Que ruído! Insuportável cacofonia. Pensa. Rápido. Estendido, está o braço. Não consegue escutar nada de tanto barulho. A cabeça dói de tanto ruído. Precisa ver o braço, enxergar o dedo. Qualquer um, qualquer dedo. Mexer o braço talvez não, pelo menos um dedo. Qual a diferença? Se mexer está bom! Por que? Claro! Se mexer está bom! Mas está mexendo! Não?
Não vê! Um pouco... Enxerga, o nariz. O nariz está lá. Dá pra ver! Vê o nariz. Não consegue olhar muito, dor de cabeça. Por que tanto ruído? Que barulho é esse? Vê a ponta do nariz, o fundo é escuro. E o braço? Onde está? Não vê!
Precisa mudar de posição para ver. O fundo continua escuro. O ruído é surdo, abafado. Por vezes zune, por vezes corta; agudos. O fundo é cinza. Talvez seja preto, até mesmo bege. Difícil essa cor; difícil de dizer, difícil de saber.
Há alguma luz, vê no nariz. O nariz reflete a luz, na sua ponta. Há uma fresta. É escuro acima do nariz. Será ao lado? Abaixo? Bem, entre o nariz e o breu vê, o fundo cinza. Há Luz; pouca luz. Estão lá: o nariz, a luz, o fundo cinza (talvez preto), o escuro, o ruído. Não vê o braço. Nenhum deles. Com certeza, muito menos o dedo, os dedos. Mexe um dedo. Tenta mexer. Será que mexeu?
É preciso mudar o ângulo. Tem que tirar o nariz da frente! Bem, não é isso, tem que colocar luz, ligar a luz, deixar entrar. Por que está escuro? Ah... é difícil até pensar, de tantos sons a martelar a cabeça. A cabeça dói, muito. Sem pensar não consegue mexer. Fica imóvel. Sente frio!
O que é isso? De onde vêm esses sons? Tão alto.... ah... um pouco de silêncio. Esqueça-os, diz pra si mesmo! Diz? Será que consegue dizer? Falar? Pensa ou fala? Escuta uma voz, é a sua. Será que está falando? Ou pensando. Pensa.. não sei mais o que estou fazendo. Sonho?
Quanto tempo vou ficar assim? Demorarei muito nesta angústia? Mais do que já se passou? Quanto? Quando iniciou? Controle remoto! Boa solução: TV tem controle remoto. Aperte-se, faça-se o silêncio, o som, a imagem, a voz, o ruído, a visão. Não, a visão não, a imagem sim. Ver é ação! Alguém vê! Vê pouco, quase nada agora! Ele, quem? Que ruído....
Só o nariz sobre o fundo, que mudou um pouco. É cinza, gris, noutro tom, mais um tom de cinza, gris. Diz ou pensa pra si mesmo: usa-o! O nariz! Usa o nariz!!! Como se usa nariz? Cheira, respira. Respira? Sim, tem que respirar. Se respira, vive. Caso contrário, não. Um tempo, quem sabe, sem respirar. Se dorme, respira. Cheiros.. algum cheiro? Não sente. Pensa.
Tenta mexer o nariz. O ruído prossegue. Persegue.. o ruído o persegue. Não! Está estático, imóvel, não há perseguição. Prossegue, a tentar. Quer mexer o dedo, só um dos dedos, qualquer um. Quer levantar o braço, quer virar, olhar, sentir, entender... acima de tudo, entender! Aldo deve fazer sentido. O que há de certo em tudo aquilo? O que é real?
Está quente. O rosto arde. Sente frio. Fecha os olhos. Abre os olhos, há luz! O fundo mudou. Bolhas, manchas talvez. Sussurros ao fundo, por cima do ruído. Dói-lhe a cabeça. Dói-lhe tudo, nem sabe o que. Gira, a imagem gira, talvez o olhar gire. Aliás, talvez ele próprio gire, como fez isso? Fez? Tenta entender o que vê, o que pensa que vê. Apaga, não respira mais.
O corpo reto, quase reto, agora estendido. No chão. Não sente. Não vê. Não ouve. Morre!
2 minutos, para ser movido. 15 minutos, para os bombeiros chegarem. 19 anos, para viver. 150 segundos, até morrer.
Cena longa, de uma vida curta...
Que ruído! Insuportável cacofonia. Pensa. Rápido. Estendido, está o braço. Não consegue escutar nada de tanto barulho. A cabeça dói de tanto ruído. Precisa ver o braço, enxergar o dedo. Qualquer um, qualquer dedo. Mexer o braço talvez não, pelo menos um dedo. Qual a diferença? Se mexer está bom! Por que? Claro! Se mexer está bom! Mas está mexendo! Não?
Não vê! Um pouco... Enxerga, o nariz. O nariz está lá. Dá pra ver! Vê o nariz. Não consegue olhar muito, dor de cabeça. Por que tanto ruído? Que barulho é esse? Vê a ponta do nariz, o fundo é escuro. E o braço? Onde está? Não vê!
Precisa mudar de posição para ver. O fundo continua escuro. O ruído é surdo, abafado. Por vezes zune, por vezes corta; agudos. O fundo é cinza. Talvez seja preto, até mesmo bege. Difícil essa cor; difícil de dizer, difícil de saber.
Há alguma luz, vê no nariz. O nariz reflete a luz, na sua ponta. Há uma fresta. É escuro acima do nariz. Será ao lado? Abaixo? Bem, entre o nariz e o breu vê, o fundo cinza. Há Luz; pouca luz. Estão lá: o nariz, a luz, o fundo cinza (talvez preto), o escuro, o ruído. Não vê o braço. Nenhum deles. Com certeza, muito menos o dedo, os dedos. Mexe um dedo. Tenta mexer. Será que mexeu?
É preciso mudar o ângulo. Tem que tirar o nariz da frente! Bem, não é isso, tem que colocar luz, ligar a luz, deixar entrar. Por que está escuro? Ah... é difícil até pensar, de tantos sons a martelar a cabeça. A cabeça dói, muito. Sem pensar não consegue mexer. Fica imóvel. Sente frio!
O que é isso? De onde vêm esses sons? Tão alto.... ah... um pouco de silêncio. Esqueça-os, diz pra si mesmo! Diz? Será que consegue dizer? Falar? Pensa ou fala? Escuta uma voz, é a sua. Será que está falando? Ou pensando. Pensa.. não sei mais o que estou fazendo. Sonho?
Quanto tempo vou ficar assim? Demorarei muito nesta angústia? Mais do que já se passou? Quanto? Quando iniciou? Controle remoto! Boa solução: TV tem controle remoto. Aperte-se, faça-se o silêncio, o som, a imagem, a voz, o ruído, a visão. Não, a visão não, a imagem sim. Ver é ação! Alguém vê! Vê pouco, quase nada agora! Ele, quem? Que ruído....
Só o nariz sobre o fundo, que mudou um pouco. É cinza, gris, noutro tom, mais um tom de cinza, gris. Diz ou pensa pra si mesmo: usa-o! O nariz! Usa o nariz!!! Como se usa nariz? Cheira, respira. Respira? Sim, tem que respirar. Se respira, vive. Caso contrário, não. Um tempo, quem sabe, sem respirar. Se dorme, respira. Cheiros.. algum cheiro? Não sente. Pensa.
Tenta mexer o nariz. O ruído prossegue. Persegue.. o ruído o persegue. Não! Está estático, imóvel, não há perseguição. Prossegue, a tentar. Quer mexer o dedo, só um dos dedos, qualquer um. Quer levantar o braço, quer virar, olhar, sentir, entender... acima de tudo, entender! Aldo deve fazer sentido. O que há de certo em tudo aquilo? O que é real?
Está quente. O rosto arde. Sente frio. Fecha os olhos. Abre os olhos, há luz! O fundo mudou. Bolhas, manchas talvez. Sussurros ao fundo, por cima do ruído. Dói-lhe a cabeça. Dói-lhe tudo, nem sabe o que. Gira, a imagem gira, talvez o olhar gire. Aliás, talvez ele próprio gire, como fez isso? Fez? Tenta entender o que vê, o que pensa que vê. Apaga, não respira mais.
O corpo reto, quase reto, agora estendido. No chão. Não sente. Não vê. Não ouve. Morre!
2 minutos, para ser movido. 15 minutos, para os bombeiros chegarem. 19 anos, para viver. 150 segundos, até morrer.
Cena longa, de uma vida curta...
